sábado, 4 de fevereiro de 2017

A serpente, a maçã e a dieta

Fazer dieta ou regime não é fácil. Sou humano e, portanto, sujeito a fraquezas. A ideia de restringir a alimentação, retirando dela ingredientes e preparos prazerosos, provoca de cara um desânimo. Não é alentador. E durante a dieta, a serpente está sempre nos tentando com uma maçã. Portanto, momentos de fraqueza são perfeitamente compreensíveis. Ninguém é de ferro.

Comecei a dieta no domingo, dia 29 de janeiro. Pra não começar na segunda, dia clássico da dieta. Ou melhor, da promessa da dieta. No domingo comi chancliches e aquele delicioso peito bovino com salada, cuja receita está postada. Tomei um cálice de vinho. O que não chega a ser um crime.

Segunda comecei o dia dentro do roteiro. Estava com 107 quilos, ao me pesar. Pela manhã, comi duas colheres de queijo cottage, um iogurte, uma banana e café à vontade. Fiquei satisfeito. Tomei o café em casa. Fui para o trabalho.

Trabalho dentro de uma padaria. E é aí que a coisa complica. Supervisiono a produção. Crio e corrijo receitas. Com isso, sou obrigado a provar tudo, o tempo todo. E aí vem o sofrimento. Não me contento com uma provinha. Devoro o que é bom. Mas não posso deixar meu trabalho. É meu ganha pão, literalmente. Isso complica um pouco mais a força de vontade, na dieta. Estou o tempo todo tentado pela serpente e sua maçã.

Pra fazer um resumo sincero da semana, deixei-me ceder às tentações em algumas noites. Tomei cerveja, comi um pouco de pão e uma noite ataquei os doces. Senti-me um réu, um grande pecador na manhã seguinte. Para não cair em depressão, fiz uma reflexão tranquila sobre meus "crimes". E cheguei à seguinte conclusão: o problema das dietas é a culpa. Não é legal sentir-se culpado por eventualmente ceder a uma vontade absolutamente humana. Isso, digamos, deve ser previsível nas dietas. Não se pode ignorar.

Pensei, então, o seguinte: não vou me abster da uma boa cerveja ou um copo de vinho na companhia de um bom prato, quando sentir vontade. Isso estará incluído na minha dieta. Se um dia sentir uma vontade incontrolável de comer doce, vou comer. Também fará parte da dieta.

O erro das dietas, penso, é não considerar as fraquezas e desvios como parte do processo. Isso deve estar no conjunto da obra. Assim como deve estar no conjunto da obra compensar possíveis "pecados" e descontroles com dias mais franciscanos. Assim será minha dieta. Se perder meio quilo por semana, estarei perdendo peso. Isso é o que interessa.

Assim, farei a dieta dos humanos. Considerarei o descontrole eventual como algo previsível. As dietas querem transformar as pessoas em seres livres de desejos, pessoas capazes de resistir à força do prazer. Isso não existe. Pode funcionar por um tempo. Mas dificilmente vai longe. E um dia o peso volta a subir, com a retomada dos desejos alimentares "pecaminosos".

Me perdoem os radicais, mas minha dieta será assim. Vou dar ciência a vocês dos meus progressos e retrocessos. Sem culpa, vergonha ou coisa parecida. Como disse, sou humano! Assim como a própria religião não ignorou o pecado, a serpente e a maçã farão parte do meu paraíso.

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